A suspensão do transporte escolar em Campos dos Goytacazes por uma semana, sob a alegação de falta de combustível, é um retrato preocupante — e sintomático — da gestão pública municipal. A decisão, tomada pela administração do prefeito Wladimir Garotinho, afetou diretamente a rotina de centenas de estudantes da rede pública, muitos dos quais dependem do transporte para frequentar as aulas e da merenda escolar para se alimentar.
É grave. E não apenas pelo impacto imediato sobre a educação e a segurança alimentar de crianças e adolescentes, mas também pela total incoerência da justificativa apresentada. Como pode uma cidade com orçamento bilionário, sustentado majoritariamente por royalties do petróleo, simplesmente parar por falta de gasolina?
A resposta talvez não esteja apenas na logística, mas no modelo de gestão. Não é a primeira vez que vemos esse roteiro se repetir: sempre que um segundo mandato garotista se aproxima, surgem sinais de precarização. É um padrão conhecido em Campos — a cidade que viu, ao longo dos anos, a promessa de continuidade de governos da mesma família política se transformar em discursos de escassez, corte e contenção.
O que está em jogo vai além do transporte: é o direito básico à educação e à dignidade. Em muitos lares, a ida à escola não é só uma questão pedagógica, mas também alimentar. Para inúmeras crianças, a merenda escolar representa a principal — quando não a única — refeição do dia. Interromper esse acesso é agravar a vulnerabilidade de quem já enfrenta dificuldades.
Campos não é pobre. Ao contrário, é uma das cidades mais ricas do interior do Brasil. O que falta, portanto, não é dinheiro. É gestão. É prioridade. É respeito ao cidadão.
Diante de mais esse episódio, o discurso da “crise de combustível” soa como desculpa frágil para uma população que começa a se cansar das repetições políticas e da falta de responsabilidade com serviços básicos. É hora de parar de tratar a população como refém de ciclos mal administrados e começar a honrar o potencial de uma cidade que tem tudo para oferecer muito mais do que vem entregando.