Durante o período em que governou o Estado do Rio de Janeiro (1999–2002), Anthony Garotinho protagonizou uma série de embates políticos que afetaram diretamente a cidade de Campos dos Goytacazes, sua terra natal. Um dos episódios mais marcantes foi o bloqueio sistemático de verbas estaduais destinadas à Prefeitura de Campos, comandada por um grupo político adversário ao seu.
O Contexto Político
Em 2000, Garotinho rompeu com o então prefeito de Campos, Arnaldo Vianna, seu ex-aliado. O rompimento se deu após disputas internas pelo controle político da cidade. Arnaldo, que havia sido vice de Garotinho e assumido a prefeitura quando este se tornou governador, decidiu seguir carreira política independente, o que não agradou ao ex-governador.
A partir daí, Garotinho passou a utilizar sua influência como governador para minar a gestão municipal adversária.
As Denúncias de Retaliação
Durante os anos de 2001 e 2002, diversas lideranças políticas de Campos e deputados estaduais denunciaram o bloqueio de recursos por motivações políticas. Programas estaduais como obras de infraestrutura, investimentos em saúde e repasses para educação foram reduzidos ou simplesmente interrompidos.
“Campos virou uma ilha isolada dentro do estado”, chegou a declarar um vereador da época. “Enquanto cidades menores recebiam verbas, Campos era ignorada.”
Em audiências públicas na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), foram levantadas evidências de que projetos aprovados tecnicamente por secretarias estaduais foram engavetados sem justificativa.
Colapso na Saúde Pública
Entre os setores mais atingidos esteve a saúde. Com o corte de repasses estaduais e o isolamento político da cidade, hospitais e unidades de pronto atendimento enfrentaram sérias dificuldades. Faltavam medicamentos básicos, equipamentos hospitalares não eram entregues e profissionais da saúde ficaram sem pagamento por meses em algumas unidades conveniadas.
Cirurgias eletivas foram suspensas e pacientes precisavam ser transferidos para cidades vizinhas por falta de estrutura. A situação chegou a tal ponto que ambulâncias da prefeitura ficavam horas na estrada, tentando encontrar hospitais com vagas para atendimento emergencial.
Relatórios internos da Secretaria Municipal de Saúde da época apontavam o colapso como resultado direto da ausência de parceria com o governo estadual, o que afetava desde o abastecimento até programas de atenção básica.
A Política como Arma
Para analistas políticos, o caso de Campos nos anos Garotinho é um exemplo clássico de uso da máquina pública para retaliação. “Ele não aceitava oposição, principalmente em sua base eleitoral”, afirmou o cientista político Paulo Baía em entrevistas passadas.
Os bloqueios de verbas também coincidiram com o fortalecimento do grupo político de Garotinho no município. Em 2004, Rosinha Garotinho, sua esposa, foi eleita prefeita de Campos — dando início a um novo ciclo de domínio político da família na cidade.
Reflexos na População
O impacto mais grave foi sentido pelos moradores. Projetos de urbanização foram paralisados, escolas ficaram sem manutenção e, sobretudo, os serviços de saúde sofreram com paralisações e precariedade. Campos viveu um período de instabilidade institucional que afetou diretamente o cotidiano da população.
Conclusão
A história do bloqueio de verbas estaduais para Campos durante o governo Garotinho é um exemplo de como disputas políticas podem afetar diretamente a vida das pessoas. Mais do que rivalidades partidárias, trata-se de uma distorção no uso do poder público, que deveria ser exercido em benefício de todos, e não como instrumento de vingança política.