A liberdade religiosa é um direito sagrado, pois o Brasil é um país laico. A fé, quando genuína, transforma vidas, acolhe os que sofrem e oferece sentido onde o mundo muitas vezes falha.
Templos, igrejas e centros religiosos cumprem um papel importante na vida de milhões de brasileiros — espiritual, emocional e até social. Mas há uma ferida aberta nesse cenário que precisa ser discutida com coragem: a contradição entre não pagar impostos e cobrar dinheiro dos fiéis com insistência e marketing religioso agressivo. Não estamos falando do dízimo e da oferta e si.
No Brasil, instituições religiosas são isentas de impostos. É um privilégio previsto na Constituição, sob o argumento de que a fé não deve ser tratada como empresa. E tudo bem — se fosse só isso.
O problema começa quando templos se tornam megaestruturas, arrecadam valores milionários, investem em emissoras, imóveis, políticos… e continuam imunes ao Fisco.
Enquanto isso, seus fiéis — muitos em situação de vulnerabilidade — são incentivados a dar o que não têm, com promessas de bênçãos, cura ou prosperidade. Entregam jóias, carros, salário e cartão de benefício, por exemplo.
Não se trata de atacar a fé. O que se critica é o uso estratégico da espiritualidade como ferramenta de arrecadação e como discarado braço político e o silêncio conveniente quando o assunto é prestação de contas. Por que uma instituição que cobra, lucra, investe e movimenta milhões não contribui com um centavo em tributos, como qualquer outro setor da sociedade?
É possível acreditar em Deus e, ao mesmo tempo, defender justiça fiscal. É possível valorizar a religião e cobrar transparência de quem a representa institucionalmente. O verdadeiro evangelho, em qualquer religião, não combina com enriquecimento sem fiscalização.
A fé merece respeito. Mas respeito não pode ser escudo para privilégio.
